Provar, comer, deliciar
a inconstância do amar
tal como um desejo
o anseio, um ensaio
o preparo e o contar.
Contar de grãos e notas,
um solfejo.
a inconstância do amar
tal como um desejo
o anseio, um ensaio
o preparo e o contar.
Contar de grãos e notas,
um solfejo.
O soar do sino
toca, entoa o apito
do preto velho, o pito.
Põe-se a mesa
e lambe os dedos
melados de sobremesa.
toca, entoa o apito
do preto velho, o pito.
Põe-se a mesa
e lambe os dedos
melados de sobremesa.
Coma o meu poema!
Dê-me um papel
e uma caneta
Para me servir de mamadeira,
pano e chupeta
Para enganar a falta de teta
Da negra ama, o leite
Ama-me com toque de azeite
e faça do sabor o aceite,
como o derreter de um sorvete.
e uma caneta
Para me servir de mamadeira,
pano e chupeta
Para enganar a falta de teta
Da negra ama, o leite
Ama-me com toque de azeite
e faça do sabor o aceite,
como o derreter de um sorvete.
Coma o meu poema!
Instigue, agite...
Mastigue, degluta e regurgite
o verso cantado,
surrado, sussurrado,
amaciado e entoado
que faz o mal
estar, o mal falado
e o mal dito, o dito
pelo não dito
Mastigue, degluta e regurgite
o verso cantado,
surrado, sussurrado,
amaciado e entoado
que faz o mal
estar, o mal falado
e o mal dito, o dito
pelo não dito
E dito a receita
daquele que na porta
de maneira torta
espreita a cozinheira
preparar faceira
a sopa, a canja, o caldo
servido como um respaldo.
daquele que na porta
de maneira torta
espreita a cozinheira
preparar faceira
a sopa, a canja, o caldo
servido como um respaldo.
Coma o meu poema!
Pegue com a mão
lambuze uma fatia de pão
rasgue com os dentes
famintos, carentes
lambuze uma fatia de pão
rasgue com os dentes
famintos, carentes
Porque ao poeta também
falta inspiração,
sem nenhuma educação
para pedir desculpa ou
licença, licença poética
à medida, à métrica
ao estilo e à estética...
Clássicas, são patéticas,
são apenas colher de chá.
falta inspiração,
sem nenhuma educação
para pedir desculpa ou
licença, licença poética
à medida, à métrica
ao estilo e à estética...
Clássicas, são patéticas,
são apenas colher de chá.
Coma o meu poema!
Garnido, flambado no vinho
de refinadas uvas
que harmonizam caindo como luvas
ao estômago, ao intestino e a estrofe
picadinha e cremosa como estrogonofe
de refinadas uvas
que harmonizam caindo como luvas
ao estômago, ao intestino e a estrofe
picadinha e cremosa como estrogonofe
De palavras douradas,
Fritas, torradas, passadas,
amassadas, assadas,
ardentes em brasa
com fogo que embasa
o calor sem temperatura
do amor da empanturrada criatura
que a lua, as rosas e o clichê atura
Sem deixar do ponto passar a fervura
das rimas que borbulham, banqueteiam
e sem perceber as línguas queimam.
Fritas, torradas, passadas,
amassadas, assadas,
ardentes em brasa
com fogo que embasa
o calor sem temperatura
do amor da empanturrada criatura
que a lua, as rosas e o clichê atura
Sem deixar do ponto passar a fervura
das rimas que borbulham, banqueteiam
e sem perceber as línguas queimam.
Coma o meu poema!
Embriague-se, coma
embebede-se e entre em coma
com o alto teor de essência de baunilha
como cão fugido da matilha
que o rango da padaria
espia, espia até que a vontade esfria.
embebede-se e entre em coma
com o alto teor de essência de baunilha
como cão fugido da matilha
que o rango da padaria
espia, espia até que a vontade esfria.
Coma a ânsia, ânsia
ânsia que enfarta,
farta de ritmo e de poema, poema?
ânsia que enfarta,
farta de ritmo e de poema, poema?
Coma o meu poema!
Como a entrada, até a conta paga
sem se dar conta, o cafezinho
alheio, ali vizinho
fecha a tarde, a manhã
com manteiga o quente pãozinho
Que poderia descrever e escrever e comer
dia e noite, noite e dia
um novo prato, uma nova poesia.
sem se dar conta, o cafezinho
alheio, ali vizinho
fecha a tarde, a manhã
com manteiga o quente pãozinho
Que poderia descrever e escrever e comer
dia e noite, noite e dia
um novo prato, uma nova poesia.
Coma o meu poema!
Coma o risoto riso ao dente
com cabelo de anjo sorridente
Como arroz, arroz e feijão
feijão, feijão e arroz
dos escritores e outros autores
a sede, sede e fome
fome, fome e sede
de um cale-se a boca, cabeça de cabaça;
de um cálice e uma meia taça.
com cabelo de anjo sorridente
Como arroz, arroz e feijão
feijão, feijão e arroz
dos escritores e outros autores
a sede, sede e fome
fome, fome e sede
de um cale-se a boca, cabeça de cabaça;
de um cálice e uma meia taça.
Coma o meu poema!
Com um gole, sem gorjeta
do gorjear de frango à passarinho
declamando com uma maça na boca
no meu ninho, desde pequeninho, o dilema;
Sem jantar o almoço agora, por hora.
do gorjear de frango à passarinho
declamando com uma maça na boca
no meu ninho, desde pequeninho, o dilema;
Sem jantar o almoço agora, por hora.
Coma o meu poema!
Vinicius Arnom